CONCLUSÃO
Este guia mostra
a conexão entre os dias da contagem do ômer
e as semanas do ano. Através dos prismas do Perek
Shirá, Pirkê Avot e das sefirot, ele ensina como embarcar nessa
jornada de autoanálise e desenvolvimento. Como metas,
uma vida mais feliz, harmônica, de constante reconhecimento, gratidão e louvor a D’us, em consonância
com o tempo.
Rabi Akiva é
quem melhor representa cada um dos prismas e metas mencionados. Em primeiro
lugar, é o rabino mais afetado pela contagem do ômer, pois foi nesse período que seus 24,000 alunos faleceram.
A conexão do
Rabi Akiva com o Pirkê Avot
é fortíssima. Mesmo depois da perda de seus alunos, não desistiu e formou mais cinco
discípulos.[1] Os
ensinamentos do Rabi Akiva e desses alunos formam grande parte da tradição
judaica, inclusive do Pirkê Avot.
A ligação de
Rabi Akiva com as sefirot
e a cabalá é bastante clara. Foi o único do grupo de quatro colegas que
“mergulhou” espiritualmente no Pardes
e sobreviveu com seu intelecto intacto.[2]
Pardes significa o “pomar” dos quatro
níveis de interpretação da Torá, sendo
o mais elevado, a cabalá. Rabi
Akiva ensina no Pirkê Avot : “Querido é o ser humano,
pois foi criado à imagem [de D’us]; é um carinho ainda maior fazê-lo ciente de
que foi criado à imagem [de D’us].” Como
explicado, o entendimento das sefirot é baseado neste conceito.
É impressionante notar que vários dos ensinamentos e histórias
de Rabi Akiva incluem animais e refletem as canções encontradas no Perek Shirá. Existe
uma clássica narrativa do Talmud ilustrando
a afirmativa de que tudo que D’us faz é para o bem. Ela conecta Rabi Akiva com
o galo, o burro, o gato, e o leão.
Rabi Akiva estava viajando quando chegou
em uma certa cidade. Tendo lhe sido recusada acomodação, retrucou com a célebre
frase: “Tudo que D’us faz é para o bem”, e foi passar a noite no campo. Levava
consigo um galo, um burro e uma lâmpada. O vento veio e apagou a lâmpada, um gato
veio e comeu o galo, e um leão veio e comeu o burro!! Contudo, diante de todos
estes obstáculos, Rabi Akiva continuou dizendo que tudo que D’us faz é para o
bem. Naquela noite, um exército inimigo invadiu e tomou todos os habitantes da
cidade cativos. Disse então para seus
discípulos: “Não expliquei a vocês que tudo que D’us faz é para o bem? Pois, se
o vento não tivesse apagado a lâmpada, se o burro tivesse rangido ou o galo
cantado, os inimigos teriam me capturado!”[3]
Quando o governo romano proibiu o estudo da Torá, cuja punição era a pena de morte, ainda
assim, Rabi Akiva continuou a estudá-la e ensiná-la. Quando indagado se
temia o decreto romano, contou a seguinte parábola: a raposa (animal no Perek Shirá que representa a destruição
do Templo) estava andando no córrego quando avistou um ajuntamento de peixes (animais
no Perek Shirá que representam a
habilidade de superar preocupações mundanas). A raposa perguntou aos peixes porque
estavam ali aglomerados, ao que responderam que estavam escondidos dos
pescadores. A raposa então sugeriu aos peixes que fossem para a terra seca e se
juntassem a ela. Daí, os peixes
contestaram afirmando que se não estavam seguros n’água, seu habitat natural,
fora d’água seria ainda muito mais perigoso![4]
Apesar de só fazer teshuvá
(retornar a D’us) e começar seus estudos aos quarenta anos, Rabi Akiva se
transformou em um dos maiores sábios de todos os tempos. Ao ser extremamente torturado,
morreu como mártir, louvando e glorificando a D’us, com as palavras do Shemá Israel em sua boca.
Fica o exemplo edificante de Rabi Akiva a ser
seguido durante a nossa jornada anual. Ao aperfeiçoar a imagem divina refletida
nas sefirot, e aprender através dos
sábios e até dos animais, encontraremos afinal
o nosso canto. O canto da alma, do Povo de Israel, da humanidade, e da
natureza.[5]
Após a jornada, quando despertarmos em Rosh Hashaná no próximo ano, escutaremos
o toque do shofar de forma mais íntima
e consciente. Se D’us quiser, em mérito deste esforço, brevemente iremos
escutar o toque do shofar feito pelo profeta
Eliyahu. Este toque anunciará, finalmente, a chegada de Mashiach, que nos ensinará a cantar com união, de forma ainda mais
elevada, com muita saúde, felicidade e paz.
[1] Talmud, Yevamot 62b.
Rabbi Shimon Bar Yochai, cujo yahrzeit
ocorre em Lag Ba’õmer, Rabbi Meir
Ba’al HaNess e Rabbi Yehuda Bar Ilay, cujos yahrzeits
ocorrem em Pessach Sheini, foram três
destes cinco discípulos.
[2] Talmud, Chagigá 14b
[3] Talmud, Berachot 60b
[4] Talmud, Berachot 61b
[5] Existem textos e
conceitos sagrados adicionais que também podem ser compreendidos através do
calendário judaico, revelando a energia espiritual de cada semana sobre outros
prismas. Com a ajuda de D’us, estes textos serão explorados nos próximos livros
desta série.
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