A Cabalá do Tempo: Revelação
da Luz Oculta através do Calendário Judaico
INTRODUÇÃO
“Para tudo existe uma época determinada,
e para cada propósito há um tempo sob os céus” (Eclesiastes 3:1)
Grande parte de nossas vidas transcorre em plena escuridão
espiritual. Muitas vezes caminhamos indecisos, por
falta de orientação sábia. Seguimos em frente, apegados a valores que
confundem mente e coração, ignorando os verdadeiros desejos e necessidades da
alma.
Tão
atarefados com os afazeres diários, acabamos distraídos por uma avalanche de
informações supérfluas, fora de sintonia com os sinais à volta – as lições e avisos
que Ele apresenta a cada instante. Contudo, determinados momentos podem nos despertar
desta escuridão. Nessas horas - relâmpagos de clareza-,
percebemos que existe algo maior, além do plano físico e preocupações mundanas.
A verdade é que a alma precisa cantar! Entretanto, como
fazer se são desconhecidas a letra e a melodia da canção? O
Ba’al Shem Tov explica que esta é a mensagem do toque do shofar em Rosh Hashaná. O
shofar é a expressão mais elementar da
alma, e é com este “grito” que o Povo Judeu desperta a cada ano.
Isto posto, este livro tem por objetivo nos aproximar do nosso “canto”. O canto da alma, do
indivíduo, do Povo de Israel, da humanidade e da natureza.
Cada uma destas canções é direcionada a D’us, e o calendário judaico serve de pauta
e partitura.
Visando uma vida mais harmoniosa, estudaremos valores
e técnicas judaicas para aprimoramento espiritual, sintonizados com a energia de cada semana do ano. Estas lições promoverão uma
transformação positiva, propiciando um canal de
diálogo com D’us. Mostraremos
como acessar ferramentas “secretas” existentes na Torá para uso ao longo do calendário judaico.
Estas lições sagradas estão ao alcance de todos, perto da boca e coração.
Acreditamos
que mediante um constante esforço, o indivíduo pode promover mudanças no núcleo
familiar, comunitário, e assim, sucessivamente. Afinal, conforme prega Isaías,”
a Terra não foi criada para ser um caos.”
Precisamos sim, e desesperadamente, viver em um mundo melhor, e deixá-lo mais
pacífico para as futuras gerações.
Ensina o Rabino
Schneur Zalman de Liadi, o Alter Rebbe de Lubavitch, que é preciso “viver com o
tempo”.
Este livro tem como elemento básico associar lições judaicas ao tempo físico. Serve
de auto-análise e
desenvolvimento espiritual a partir das canções de cada animal no Perek
Shirá, dos preceitos de cada rabino do Pirkê Avot, e sefirá (emanação
divina) de cada dia da contagem do ômer.
A contagem
do ômer sempre foi usada pelo Povo Judeu como base de aprimoramento
espiritual. A contagem começa em Pessach e segue até Shavuot. Ao
sair do Egito, o Povo de Israel estava no 49º nível de impureza. Durante os
quarenta e nove dias da contagem do ômer, gradativamente o povo se
purificou, revertendo este cenário para
atingir o 49º nível de pureza! Sete semanas depois, ao chegar no Monte
Sinai, estavam tão refinados espiritual e emocionalmente, que ali acamparam em
harmonia e paz, com união total: “como uma só pessoa, com único coração”.
Só assim o Povo Judeu foi merecedor e pôde ser presenteado com a Torá.
Da
mesma forma, durante a contagem do ômer feita a cada ano, é possível
obter semelhante aperfeiçoamento e cura espiritual. Este aprimoramento pode ser
feito através da concentração diária nas sefirot.
Cada dia da contagem é representado pela combinação de duas sefirot. A
contagem do ômer ocorre quase toda
dentro do mês de Iyar, que está
ligado à cura. O nome deste mês é o acrônimo
do verso em hebraico “Eu sou D’us Seu Curador”.
Abrindo
parênteses, além de ser uma época de elevação e cura, lamentavelmente o ômer
marca uma era triste na história do Povo de Israel. Em decorrência de uma
praga, faleceram vinte e quatro mil alunos do Rabi Akiva durante esses dias. O Talmud explica que esta praga ocorreu
pela falta de respeito mútuo entre os discípulos. A praga terminou no 33º dia
do ômer, Lag Ba'Ômer, e este é
um dos motivos pelos quais essa data é tão celebrada. Outrossim, a principal razão pela qual se comemora Lag
Ba’Ômer é atribuída ao yahrzeit – aniversário de
falecimento – do grande tzadik Rabi Shimon Bar Yochai, muitos anos
depois. Rabi Shimon Bar Yochai é o autor do celebrado Livro Zohar, o
texto básico da cabalá.
Impressionante
notar, tal qual a festividade de Lag
Ba'Ômer ocorre no dia trinta e três do ômer, representando
aproximadamente dois terços da contagem, o mesmo ocorre com a semana de Lag Ba’Ômer. Esta semana é a trigésima terceira,
aproximadamente dois terços do ano. Em consequência, cada semana do ano está
conectada por uma variação das sefirot, procedimento semelhante ao
adotado durante a contagem de cada dia do ômer. Semanalmente, a partir
das sefirot, mostrar-se-á como uma pessoa pode se aprimorar e se engajar
no processo de cura.
Entre Pessach
e Shavuot, na maioria das comunidades judaicas existe o costume de
estudar o Pirkê Avot como mecanismo de autoaperfeiçoamento. Pirkê
Avot, que significa Capítulos dos Patriarcas, é parte da Mishná (Torá
oral), compilada por Rabi Yehudá
HaNassi. Nesses capítulos, cada sábio da geração escreve o que considera mais
importante para se viver éticamente com a Torá. Pirkê Avot também pode ser entendido como “Capítulos dos Pais”, pois nele estão incluídos
os princípios fundamentais para o estudo e cumprimento da Torá. Neste sentido, as lições do Pirkê Avot são como "pais", e o restante da Torá são “os filhos”.
Este
livro mostrará como os pronunciamentos dos rabinos constantes nos primeiros
quatro capítulos do Pirkê Avot estão organizados, de tal forma que, cada
rabino corresponde a uma semana do ano. Igualmente, se revelará como este trabalho
semanal de auto-aprimoramento está relacionado com cada animal do Livro Perek
Shirá.
O
Perek Shirá que significa Capítulo da Canção, é um texto pouco conhecido. Foi
publicado em apenas alguns livros de prece no mundo. A autoria do Perek
Shirá é comumente atribuida ao Rei David, que o escreveu após ter concluído
o Livro dos Salmos.
Dentre
outros livros sagrados do judaísmo, o Perek Shirá é pioneiro em matéria
ambiental. Este poético livro contém os
elementos essenciais do universo, incluindo os céus e a terra, plantas e
animais. Suas páginas são de extremo
lirismo, deslumbramento e exaltação ao Criador. Tal qual ocorre em um concerto
de orquestra, ao invés de músicos, cada elemento deste livro oferece sua
contribuição em prol de um resultado glorioso. O produto final é desvelado
através da melhor possível aclamação a D’us por parte dos representantes do
reino animal elencados a partir do quarto capítulo.
É sabido que o ser
humano pode aprender sobre conduta observando o comportamento dos animais e os
atos da natureza. No Livro de Jó, está contido o ensinamento de como
devemos glorificar a D’us observando o
procedimento dos pássaros.
O Talmud nos ensina que mesmo sem a Torá, aprenderíamos sobre
modéstia com os gatos, entre outros exemplos.
Neste sentido, o Pirkê Avot explica através do ensinamento de Yehudá ben
Teimá, para sermos ousados como o leopardo, ligeiros como a águia, ágeis como a
gazela e fortes como o leão.
Impressionante como o livro de Provérbios mostra ao preguiçoso para observar a
formiga e com ela adquirir sabedoria. Este animal embora sem patrão, supervisor
ou soberano, provê seu pão no verão e estoca alimento durante a colheita!
O Rebbe
de Lubavitch explica que às vezes é mais fácil para o ser humano aprender
determinadas condutas com os animais. O homem é cheio de paradoxos e conflitos
internos, enquanto os animais normalmente
têm características fortes e claras, sem espaço para sutilezas humanas.
Prosseguindo,
fascinante observar na leitura do Perek Shirá como os animais reconhecem
o poder criador de D’us e são agradecidos em seus louvores! Se os animais tanto glorificam a D’us, que dirá como a
humanidade deveria louvá-Lo... Através de cada animal e de sua
respectiva canção, extraímos lições edificantes para encontrar alegria e combater
a depressão.
É
extraordinário perceber que dentre todos os elementos da Terra que glorificam
seu Criador Único, encontam-se os
animais listados no Livro exatamente em número de 52, um para cada semana do
ano!
Este livro pode ser lido de uma só vez do início ao fim, mas seu
propósito é de que seja vivenciando diariamente. O objetivo é fazer com que o
indivíduo se conecte com a energia espiritual da semana através de três
prismas: Perek Shirá, Pirkê Avot e contagem do ômer. Além
disso, indicaremos festividades e datas importantes do calendário, explicando o
significado de cada mês.
Para
poder cumprir a jornada, o leitor precisará ter humildade e mente aberta, além
de outro ingrediente básico imprescindível: fé em D’us. Está escrito no Midrash
que o mar se abriu e os judeus só puderam prosseguir depois que Nachshon Ben
Aminadav se jogou ao mar. Com o propósito de recordar o episódio, sabemos que o
Povo Judeu estava completamente emboscado antes da abertura do mar. Qual a
saída? Na frente, águas profundas e, atrás, o impiedoso exército egípcio. Por
tudo isto, o povo estava hesitante e incrédulo, apesar dos inúmeros milagres
divinos que culminaram com sua libertação do Egito. Sem titubear, acreditando
em um desenlace favorável, Nachshon se lançou ao mar. Quando as águas estavam
já entrando em suas narinas, o Mar Vermelho se abriu e todos o seguiram. O Midrash
explica que D’us queria que Seu povo agisse baseado em fé.
Portanto,
a partir do exemplo de Nachshon aprende-se que basta ter certeza e acreditar
com fervor no Criador. Os obstáculos foram removidos pois existiu determinação
por parte de Nachshon de realizar um desígnio divino. Afinal, nada é impossível
ou sequer difícil para o Eterno que tirou Seu povo da terra do Egito.
Isto mesmo, D’us tirou Seu querido povo da escravidão: Ele não enviou anjos nem
emissários para esta missão, realizada com Sua mão poderosa e braço estendido.
Por isto, além de celebrar anualmente a festividade de Pessach,
diariamente nas rezas matutinas, o Povo de Israel lembra de sua libertação da
escravatura, ocorrida há milênios atrás.
Em
conclusão, imbuído de fé pode o
indivíduo trilhar firme esta proposta para uma bela jornada espiritual. E é
movida pela fé, verdade e esperança que as ferramentas na busca de entendimento
da sabedoria judaica se seguem apresentadas nas próximas páginas deste livro.