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Sunday, December 27, 2009

INTRODUÇÃO


A Cabalá do Tempo: Revelação da Luz Oculta através do Calendário Judaico

INTRODUÇÃO

“Para tudo existe uma época determinada, e para cada propósito há um tempo sob os céus” (Eclesiastes 3:1)

Grande parte de nossas vidas transcorre em plena escuridão espiritual. Muitas vezes caminhamos indecisos, por falta de orientação sábia. Seguimos em frente, apegados a valores que confundem mente e coração, ignorando os verdadeiros desejos e necessidades da alma.
Tão atarefados com os afazeres diários, acabamos distraídos por uma avalanche de informações supérfluas, fora de sintonia com os sinais à volta – as lições e avisos que Ele apresenta a cada instante. Contudo, determinados momentos podem nos despertar desta escuridão. Nessas horas - relâmpagos de clareza-, percebemos que existe algo maior, além do plano físico e preocupações mundanas.
A verdade é que a alma precisa cantar! Entretanto, como fazer se são desconhecidas a letra e a  melodia da canção? O Ba’al Shem Tov explica que esta é a mensagem do toque do shofar em Rosh Hashaná. O shofar é a expressão mais elementar da alma, e é com este “grito” que o Povo Judeu desperta a cada ano.
Isto posto, este livro tem por objetivo nos aproximar do nosso “canto”. O canto da alma, do indivíduo, do Povo de Israel, da humanidade e da natureza.[1] Cada uma destas canções é direcionada a D’us, e o calendário judaico serve de pauta e partitura.
Visando uma vida mais harmoniosa, estudaremos valores e técnicas judaicas para aprimoramento espiritual, sintonizados com a energia de cada semana do ano. Estas lições promoverão uma transformação positiva, propiciando um canal de  diálogo com D’us. Mostraremos como acessar ferramentas “secretas” existentes na Torá para uso ao longo do calendário judaico. Estas lições sagradas estão ao alcance de todos, perto da boca e coração.[2]  
Acreditamos que mediante um constante esforço, o indivíduo pode promover mudanças no núcleo familiar, comunitário, e assim, sucessivamente. Afinal, conforme prega Isaías,” a Terra não foi criada para ser um caos.”[3] Precisamos sim, e desesperadamente, viver em um mundo melhor, e deixá-lo mais pacífico para as futuras gerações.
Ensina o Rabino Schneur Zalman de Liadi, o Alter Rebbe de Lubavitch, que é preciso “viver com o tempo”.[4] Este livro tem como elemento básico associar lições judaicas ao tempo físico. Serve de auto-análise e desenvolvimento espiritual a partir das canções de cada animal no Perek Shirá, dos preceitos de cada rabino do Pirkê Avot, e sefirá (emanação divina) de cada dia da contagem do ômer.
A contagem do ômer sempre foi usada pelo Povo Judeu como base de aprimoramento espiritual. A contagem começa em Pessach e segue até Shavuot. Ao sair do Egito, o Povo de Israel estava no 49º nível de impureza. Durante os quarenta e nove dias da contagem do ômer, gradativamente o povo se purificou, revertendo este cenário para  atingir o 49º nível de pureza! Sete semanas depois, ao chegar no Monte Sinai, estavam tão refinados espiritual e emocionalmente, que ali acamparam em harmonia e paz, com união total: “como uma só pessoa, com único coração”.[5] Só assim o Povo Judeu foi merecedor e pôde ser presenteado com a Torá.
Da mesma forma, durante a contagem do ômer feita a cada ano, é possível obter semelhante aperfeiçoamento e cura espiritual. Este aprimoramento pode ser feito através da concentração diária nas sefirot. Cada dia da contagem é representado pela combinação de duas sefirot. A contagem do ômer ocorre quase toda dentro do mês de Iyar, que está ligado à cura. O nome deste  mês é o acrônimo do verso em hebraico “Eu sou D’us Seu Curador”.[6]
Abrindo parênteses, além de ser uma época de elevação e cura, lamentavelmente o ômer marca uma era triste na história do Povo de Israel. Em decorrência de uma praga, faleceram vinte e quatro mil alunos do Rabi Akiva durante esses dias. O Talmud explica que esta praga ocorreu pela falta de respeito mútuo entre os discípulos. A praga terminou no 33º dia do ômer, Lag Ba'Ômer, e este é um dos motivos pelos quais essa data é tão celebrada. Outrossim,  a principal razão pela qual se comemora Lag Ba’Ômer é atribuída ao yahrzeit – aniversário de falecimento – do grande tzadik Rabi Shimon Bar Yochai, muitos anos depois. Rabi Shimon Bar Yochai é o autor do celebrado Livro Zohar, o texto básico da cabalá.
Impressionante notar, tal qual a festividade de Lag Ba'Ômer ocorre no dia trinta e três do ômer, representando aproximadamente dois terços da contagem, o mesmo ocorre com a semana de Lag Ba’Ômer. Esta semana é a trigésima terceira, aproximadamente dois terços do ano. Em consequência, cada semana do ano está conectada por uma variação das sefirot, procedimento semelhante ao adotado durante a contagem de cada dia do ômer. Semanalmente, a partir das sefirot, mostrar-se-á como uma pessoa pode se aprimorar e se engajar no processo de cura.
Entre Pessach e Shavuot, na maioria das comunidades judaicas existe o costume de estudar o Pirkê Avot como mecanismo de autoaperfeiçoamento. Pirkê Avot, que significa Capítulos dos Patriarcas, é parte da Mishná (Torá oral), compilada por Rabi Yehudá HaNassi. Nesses capítulos, cada sábio da geração escreve o que considera mais importante para se viver éticamente com a Torá. Pirkê Avot também pode ser entendido como “Capítulos dos Pais”, pois nele estão incluídos os princípios fundamentais para o estudo e cumprimento da Torá. Neste sentido, as lições do Pirkê Avot são como "pais", e o restante da Torá são “os filhos”.[7] 
Este livro mostrará como os pronunciamentos dos rabinos constantes nos primeiros quatro capítulos do Pirkê Avot estão organizados, de tal forma que, cada rabino corresponde a uma semana do ano. Igualmente, se revelará como este trabalho semanal de auto-aprimoramento está relacionado com cada animal do Livro Perek Shirá.
O Perek Shirá que significa Capítulo da Canção, é um texto pouco conhecido. Foi publicado em apenas alguns livros de prece no mundo. A autoria do Perek Shirá é comumente atribuida ao Rei David, que o escreveu após ter concluído o Livro dos Salmos.
Dentre outros livros sagrados do judaísmo, o Perek Shirá é pioneiro em matéria ambiental. Este poético livro contém  os elementos essenciais do universo, incluindo os céus e a terra, plantas e animais.  Suas páginas são de extremo lirismo, deslumbramento e exaltação ao Criador. Tal qual ocorre em um concerto de orquestra, ao invés de músicos, cada elemento deste livro oferece sua contribuição em prol de um resultado glorioso. O produto final é desvelado através da melhor possível aclamação a D’us por parte dos representantes do reino animal elencados a partir do quarto capítulo.
É sabido que o ser humano pode aprender sobre conduta observando o comportamento dos animais e os atos da natureza. No Livro de Jó, está contido o ensinamento de como devemos  glorificar a D’us observando o procedimento dos pássaros.[8] O Talmud nos ensina que mesmo sem a Torá, aprenderíamos sobre modéstia com os gatos, entre outros exemplos.[9] Neste sentido, o Pirkê Avot  explica através do ensinamento de Yehudá ben Teimá, para sermos ousados como o leopardo, ligeiros como a águia, ágeis como a gazela e fortes como o leão.[10] Impressionante como o livro de Provérbios mostra ao preguiçoso para observar a formiga e com ela adquirir sabedoria. Este animal embora sem patrão, supervisor ou soberano, provê seu pão no verão e estoca alimento durante a colheita![11]
O Rebbe de Lubavitch explica que às vezes é mais fácil para o ser humano aprender determinadas condutas com os animais. O homem é cheio de paradoxos e conflitos internos, enquanto  os animais normalmente têm características fortes e claras, sem espaço para sutilezas humanas.
Prosseguindo, fascinante observar na leitura do Perek Shirá como os animais reconhecem o poder criador de D’us e são agradecidos em seus louvores! Se os animais tanto glorificam a D’us, que dirá como a humanidade deveria louvá-Lo... Através de cada animal e de sua respectiva canção, extraímos lições edificantes para encontrar alegria e combater a depressão.
É extraordinário perceber que dentre todos os elementos da Terra que glorificam seu Criador Único,  encontam-se os animais listados no Livro exatamente em número de 52, um para cada semana do ano!
Este livro pode ser lido de uma só vez do início ao fim, mas seu propósito é de que seja vivenciando diariamente. O objetivo é fazer com que o indivíduo se conecte com a energia espiritual da semana através de três prismas: Perek Shirá, Pirkê Avot e contagem do ômer.  Além disso, indicaremos festividades e datas importantes do calendário, explicando o significado de cada mês.
Para poder cumprir a jornada, o leitor precisará ter humildade e mente aberta, além de outro ingrediente básico imprescindível: fé em D’us. Está escrito no Midrash que o mar se abriu e os judeus só puderam prosseguir depois que Nachshon Ben Aminadav se jogou ao mar. Com o propósito de recordar o episódio, sabemos que o Povo Judeu estava completamente emboscado antes da abertura do mar. Qual a saída? Na frente, águas profundas e, atrás, o impiedoso exército egípcio. Por tudo isto, o povo estava hesitante e incrédulo, apesar dos inúmeros milagres divinos que culminaram com sua libertação do Egito. Sem titubear, acreditando em um desenlace favorável, Nachshon se lançou ao mar. Quando as águas estavam já entrando em suas narinas, o Mar Vermelho se abriu e todos o seguiram. O Midrash explica que D’us queria que Seu povo agisse baseado em fé.
Portanto, a partir do exemplo de Nachshon aprende-se que basta ter certeza e acreditar com fervor no Criador. Os obstáculos foram removidos pois existiu determinação por parte de Nachshon de realizar um desígnio divino. Afinal, nada é impossível ou sequer difícil para o Eterno que tirou Seu povo da terra do Egito.[12] Isto mesmo, D’us tirou Seu querido povo da escravidão: Ele não enviou anjos nem emissários para esta missão, realizada com Sua mão poderosa e braço estendido.[13] Por isto, além de celebrar anualmente a festividade de Pessach, diariamente nas rezas matutinas, o Povo de Israel lembra de sua libertação da escravatura, ocorrida há milênios atrás.
Em conclusão, imbuído de pode o indivíduo trilhar firme esta proposta para uma bela jornada espiritual. E é movida pela fé, verdade e esperança que as ferramentas na busca de entendimento da sabedoria judaica se seguem apresentadas nas próximas páginas deste livro.





[1] Orot Ha-Kodesh II, p. 444
[2] Tanya, introdução; Deuteronômio 30:11
[3] Cap. 45:18
[4] Hayom Yom, 2 de Cheshvan,  p. 101
[5] Êxodo 19:2, Rashi
[6] Êxodo 15:26
[7] Marcus, p. 12
[8] Cap. 35:11
[9] Eruvim 100b
[10] Cap. 5:23
[11] Cap. 6:6
[12] Êxodo 20:2 e Salmo 78
[13] Deuteronômio 4:34

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