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Saturday, December 26, 2009

As Sefirot


As Sefirot
“E D’us disse: Façamos o homem com nossa imagem e semelhança” (Gênesis 1:26)

Está escrito no Livro Gênesis que D’us criou o ser humano em Sua imagem. De acordo com Maimônides, a humanidade é semelhante a D’us, pois recebeu qualidades divinas, a saber;  moral, raciocínio e a capacidade de livre escolha. A este respeito, o ser humano se assemelha a D’us espiritualmente e não no aspecto ou configuração material. Maimônides explica que temos que tentar emular a D’us, copiando Seus atributos. Assim como D’us é misericordioso, devemos ser misericordiosos. Da mesma maneira, assim como D’us é sagrado, igualmente devemos ser sagrados.[1]

Isto posto, através do estudo da cabalá, aprendemos a emular a D’us através de Suas qualidades manifestadas nas sefirot. Neste sentido, a terminologia sefirá pode ser traduzida como emanação, característica, qualidade ou faculdade divina. Cada ser humano tem dentro de si uma reflexão destas sefirot. Ao trabalhar e aperfeiçoar nossas próprias sefirot (também chamadas de midot), podemos melhor emular e nos relacionar com o Criador. Portanto, esta é uma das razões pelas quais é tão importante conhecer o significado cabalístico das sefirot.
Uma maneira de compreender o significado das sefirot é através do entendimento do que são os “Sete Pastores” que visitam o Povo Judeu durante a festividade de Sucot. O Zohar explica que estes homens justos são “recebidos” espiritualmente na Sucá anualmente. A propósito, esta é uma das experiências mais especiais de Sucot.
O Povo de Israel tem três patriarcas: Abrahão, Isaac e Jacob. Na primeira noite de Sucot quem honrosamente visita na Sucá o Povo Judeu é Abrahão. Nosso pai e patriarca tem como característica preponderante, entre outras, a bondade, fazer bem ao próximo, ou seja, chesed. Consta na obra cabalística Sefer HaBahir que a sefirá inclusive "reclamou" com D’us de sua falta de função durante a vida de nosso patriarca![2] Abrahão era extremamente hospitaleiro, sempre recebendo hóspedes em sua casa de forma excepcional – inclusive pessoas completamente idólatras. Outrossim, Abrahão foi à guerra para salvar seu sobrinho Lot, mesmo ciente de seus defeitos, o que demonstra como nosso patriarca tinha exacerbada a sefirá de chesed.
Por sua vez, a sefirá guevurá representa força, disciplina, controle e sacrifício pessoal. Quem visita a Sucá na segunda noite é o segundo patriarca, Isaac. O Pirkê Avot diz  que forte, com guevurá, é aquele que domina sua tendência física. Esta sefirá está conectada com Isaac, que se controlou o suficiente para permitir que Abrahão o levasse a sacrifício. Guevurá representa a capacidade de se refrear e não dar ou ceder quando a pessoa não tem merecimento. Um exemplo disto ocorreu quando Isaac não deu bençãos extras a seu filho Esaú.
Seguindo esta cronologia, é fácil advinhar quem vem para jantar na Sucá na terceira noite: Jacob. Nosso patricarca pode ser visualizado pela sefirá tiferet, resultante do equilíbrio entre chesed e guevurá. Jacob, que depois teve seu nome mudado para Israel, representa harmonia. Apesar de começar sua vida mais ligado a chesed (sendo o preferido de sua mãe, a matriarca Rebeca, ela mesma representativa da sefirá chesed), Jacob encarou extremos desafios com tremenda coragem e disciplina.,Trabalhou para Labão, enfrentou um anjo e Esaú. A sefirá de tiferet é também conhecida como rachamim, misericórdia.
Após a presença dos três patriarcas, na quarta noite de Sucot, o Povo de Israel recebe em sua Sucá um novo convidado: Moisés. Este grande líder espiritual tem por maiores características a humildade, perseverança, redenção e vitória, atributos simbolizados pela sefirá netzach. Através de Moisés, o homem mais humilde da Terra, D’us redimiu o Povo Judeu do Egito e entregou a Torá.
Durante a quinta noite de Sucot, Aarão, o irmão de Moisés, visita a Sucá. Nesta noite a sefirá hod é o elemento divino refletido no indivíduo. Hod pode ser entendida por gratidão, reconhecimento, glória, mas também por serviço devoto e nulificação. Aarão, o primeiro Sumo Sacerdote, servia e glorificava a D’us com gratidão e com todo o seu ser, se nulificando totalmente diante de D’us. Aarão também servia o Povo de Israel, sempre buscando harmonia e paz àqueles ao seu redor.
Prosseguindo, na sexta noite recebe-se José na Sucá, ele que está ligado a sefirá yesod, que significa fundação, firmeza e retidão. José manteve-se firme perante a sedução da mulher de Potifar, mantendo sua base judaica, mesmo após muitos anos sozinho e isolado no Egito. Cabe ressaltar que de todos os Sete Pastores, José é conhecido como HaTzadik, o Justo. O tzadik representa a fundação do mundo, a fonte de sua sustentação espiritual e material, como foi José.
Finalmente, na última noite da festividade de Sucot, o Povo Judeu recebe na Sucá a visita do Rei David, ligado preponderantemente a sefirá malchut. Esta sefirá pode ser traduzida por reinado, pois representa a capacidade de ação no mundo material. Malchut engloba as qualidades de todas as outras sefirot e as coloca em prática. O Rei David representa bem esta sefirá, pois seu reinado, e o de seu filho Salomão, são o maior exemplo da manifestação do reino de D’us neste mundo. O Rei David instituiu a leitura de seus Salmos e nos ensinou do poder ligado ao ato de teshuvá (arrependimento e retorno a D’us). Ademais, malchut é a única sefirá emocional tida como feminina. Além do Rei David, malchut muitas vezes é simbolizada pela matriarca Rachel.
Durante a contagem do ômer, as três sefirot que refletem a capacidade da mente, chochmá, biná e da'at (ou keter), a saber, sabedoria, conhecimento e compreensão,  não são trabalhadas. Isto porque no dia de Pessach, D’us já presenteou o Povo de Israel com estes atributos. Então, já dotado destas qualidades, o indivíduo passa a trabalhar seu lado emocional. Depois de terminado esse trabalho, como recompensa, em Shavuot, recebemos um nivel ainda mais elevado das sefirot intelectuais.





[1] Maimônides, Mishna Torá, Hilchot De’ot, Cap. 1:6
[2] Hayom Yom, 22 de Cheshvan, p. 106

Sunday, December 20, 2009

Semana 1: Levantar a Cabeça, Escolher um Mestre e Reconhecer a Unicidade de D’us


Semana 1: Levantar a Cabeça, Escolher um Mestre e Reconhecer a Unicidade de D’us

O mês de Tishrei, representado pela tribo de Efraim, é praticamente todo dedicado à espiritualidade – repleto de festas judaicas cobertas de alegria, do começo ao fim. Efraim, filho de José, passou a vida estudando Torá com seu avô, Jacob, e teve uma vida profundamente espiritual.
Na primeira semana do calendário judaico, a festividade celebrada que marca o começo do ano é Rosh Hashaná, cabeça do ano. Nesta semana, o primeiro animal do Perek Shirá é o galo que canta um verso introdutório, seguido  exatamente de outros sete cantos,, um  para cada dia da semana. Paralelamente, em Rosh Hashaná, o Povo Judeu escuta o canto de despertar espiritual do toque do shofar. Existe um paralelo entre os oito cantos do galo e as oito vezes em que se toca o shofar em Rosh Hashaná. O shofar é tocado 100 vezes, tal qual os cantos do galo, que tem 100 palavras.
O galo, animal majestoso que encabeça a listagem dos animais no Perek Shirá, representa a idéia do reinado de D’us. É exatamente em Rosh Hashaná que o Povo de Israel reconhece D’us como Rei.
            No Pirkê Avot, os quatorze primeiros autores dos ditos do Capítulo I repetem a idéia de obter e seguir a orientação de um único mestre. Para crescermos espiritualmente, é importante a escolha de um guia que nos conheça, para dar orientação e responder perguntas e que seja objetivo sobre o que é necessário para obtermos  autoaperfeiçoamento.
Esses versos contém uma introdução seguida de sete pares de rabinos, paralelos ao canto do galo, que contêm uma introdução e sete versos. Estas lições estão todas conectadas a Rosh Hashaná.
A primeira semana do ano está associada a combinação de sefirot que resulta em chesed shebechesed. Chesed significa bondade, e em Rosh Hashaná sentimos que D’us atende abundantemente aos pedidos e súplicas de Seus filhos. O Ba’al Shem Tov explica que o toque do shofar é como o grito de um príncipe que passou anos fora de casa e esqueceu sua própria língua materna. Ao ver à distância seu pai, o Rei, grita por reconhecimento.
O galo também nos ensina uma importante lição. No seu cântico do Perek Shirá, ele aconselha o indivíduo a não continuar dormindo, levantar a cabeça e seguir em frente. E levantar da cama não é o primeiro conselho que se pode dar a uma pessoa que está melancólica ou deprimida?[1] O ato de levantar é um grande milagre e o primeiro passo para enfrentarmos com fé as alegrias, como também as vicissitudes de um novo dia.


[1] Este ensinamento não tem a pretensão nem a ousadia de substituir um medicamento prescrito a uma pessoa clinicamente deprimida. O objetivo dessa lição é o de apontar como o ser humano pode se inspirar na conduta do galo, que levanta cedo para um novo dia, sem auxílio de qualquer eletrônico.

Sunday, December 13, 2009

Semana 2: Relacionar-se Bem com as Pessoas e com o Próprio Corpo


Semana 2: Relacionar-se Bem com as Pessoas e com o Próprio Corpo

Na segunda semana do ano judaico, de Yom Kippur[1] (Dia do Perdão), é a vez da galinha cantar no Perek Shirá sobre a bondade eterna de D’us, que dá o pão, isto é, o alimento para todos (Salmo 136:25). Poucos talvez saibam, mas a refeição da véspera de Yom Kippur é considerada tão importante quanto o próprio jejum!
Vejamos que coincidência surpreendente: justo na segunda semana, às vésperas de Yom Kippur, o Povo Judeu faz kapparot, costume simbólico de expiar os pecados através de uma galinha! Cada galinha abatida é oferecida a famílias carentes. Hoje em dia, ao invés da galinha, muitos fazem uma contribuição financeira, utilizando o dinheiro doado para cumprir este ritual. Antes de Yom Kippur também temos o o costume de pedirmos desculpas uns aos outros.
O Pirkê Avot ligado a esta semana exprime a recomendação de Shimon, filho de Raban Gamliel: “Toda minha vida cresci entre os Sábios, e não encontrei nada melhor para a pessoa [literalmente, o corpo] que o silêncio; não é o estudo, e sim a prática que é o principal; e quem conversa em excesso traz o pecado” (Cap. I:17). Para que possamos absorver as palavras dos sábios, antes de mais nada temos que ficar em silêncio. Em Yom Kippur, ao jejuar, silenciamos os desejos do corpo.
Como afirmamos na primeira semana, o Pirkê Avot aconselha ao indivíduo decidir-se por um único rabino mestre. Contudo, isto não significa que uma pessoa não possa aprender de vários sábios da Torá, assim como de todas as outras pessoas.[2]
Nesta segunda semana predomina a combinação de sefirot guevurá shebechesed. Guevurá significa força, controle, justiça e disciplina. Em Yom Kippur o Povo de Israel, com disciplina e força de vontade exerce o auto-controle através do jejum. Sabendo que D’us é justo e bondoso, o povo suplica ao Criador por clemência e proteção.
A lição de auto-aprimoramento que extraimos do Perek Shirá desta semana é a de que até a galinha reconhece que D’us alimenta todos os seres vivos. Depois de levantar da cama, como o galo dá o exemplo na primeira semana, a segunda lição para combater a depressão é cuidar de si, o que inclue comer adequadamente e fazer exercícios.


[1] A véspera de Yom Kippur sempre ocorre na segunda semana do ano. No entanto, o dia de Yom Kippur às vezes acontece no primeiro dia da terceira semana, como no ano 5773. Esta é a única exceção existente de todas as datas descritas em cada semana deste livro.
[2] Cap. IV:1

Sunday, December 6, 2009

Semana 3: Ser Feliz, Ter Equilíbrio e Segurança em D’us


Semana 3: Ser Feliz, Ter Equilíbrio e Segurança em D’us

Na terceira semana do ano judaico, quando o Povo comemora Sucot, o pombo é o animal apresentado no Perek Shirá. Ele canta para D’us ser a sua fonte de proteção, e pede para que seu sustento venha diretamente Dele, e não das mãos de um ser humano (Isaías 38:14 e Talmud, Eruvin 18b). Normalmente, esta semana também marca o yahrzeit do quarto Rebbe de Lubavitch, Shmuel, o Rebbe Maharash, no dia treze de Tishrei.
Em Sucot, o Povo Judeu recorda como D’us o protegeu no deserto, assim como celebra a continuidade dessa proteção até os dias atuais. Vivemos sempre como dentro de uma Sucá, em um estado frágil e sujeito às intempéries do tempo, e dependemos inteiramente de D’us para obter segurança e equilíbrio.
No Pirkê Avot associado à terceira semana, Raban Shimon ben Gamliel explica que o mundo perdura em virtude de três coisas: a justiça, a verdade e a paz (Cap. I:18). Sem essas,  não há equilíbrio e segurança no mundo.
 Assim, nesta semana prepondera a combinação das sefirot tiferet shebechesed. A sefirá tiferet denota a beleza e equilíbrio. Assim como Jacob representa tiferet, o Rebbe Maharash também representa esta sefirá. Este Rebbe nasceu no décimo sétimo dia do ômer, que corresponde a tiferet shebetiferet. Seu pai às vezes até se referia ao filho por essa combinação.[1]
Jacob também é associado à Sucot. Existe um verso na Torá que expressamente se refere a isso: depois de se despedir de Esaú, Jacob vai para Sucot![2]  
Esses são os dias em que a comunidade recebe as bençãos divinas de auxílio físico e espiritual, debaixo das frágeis construções de suas Sucot. Nestes dias, não temos escolha, somos comandados a sermos felizes.[3] Se é preciso fingir felicidade, que assim seja. Por vezes ao botar uma “máscara”de felicidade, acabamos transformados e ficamos felizes de verdade.
De um modo geral, as Sucot são espiritual e visualmente muito bonitas. Construir, enfeitar e preparar as refeições na Sucá já constitui uma boa “terapia.” Nesta semana, o indivíduo aprende com o pombo a não ficar ansioso e ter fé em D’us, que proverá todas suas necessidades. Por outro lado, é  importante criar um recipiente para receber as bençãos divinas. Além de cuidar do corpo, é aconselhável trabalhar para manter um ambiente organizado, equilibrado e agradável, como a Sucá.



[1]  Hayom Yom, 2 de Iyar, p. 50
[2] Um lugar antigo em Israel assim denominado (Gênesis 33:17)
[3] Deuteronômio 16: 14

Sunday, November 29, 2009

Semana 4: Se Responsibilizar com o Coletivo, Se Protegendo de Más Companhias


Semana 4: Se Responsibilizar com o Coletivo, Se Protegendo de Más Companhias

            Na quarta semana do ano, durante o final de Sucot, Shemini Atseret e Simchat Torá, é a vez da águia cantar no Perek Shirá. Em Simchat Torá, se conclui a leitura anual de toda a Torá feita em todas as sinagogas. Logo em seguida, a comunidade inicia novamente a leitura da Torá, começando do princípio. A águia é um símbolo deste reinício, pois renova suas penas de ano a ano.[1]  
A águia canta suplicando para D’us lembrar de todas as outras nações, e castigar os malvados (Salmo 59:6). Durante Sucot, o Povo de Israel lembra de todas as nações em suas preces. No entanto, o enfoque de Shemini Atseret está na relação íntima entre D’us e o Povo Judeu.
A águia é a ave que voa mais alto de todas, tendo portanto,  uma visão extremamente ampla e potente de toda a Criação. Ao contrário dos outros pássaros, que carregam os filhotes entre suas garras, a águia os carrega em cima de suas asas, para evitar que outro animal os alcance. Assim é nossa relação com D’us: "Vocês viram o que fiz aos egípcios e como os levei sobre asas de águia e os trouxe a Mim".[2]
No Pirkê Avot, Rabi Yehudá HaNassí discorre sobre como se manter no caminho correto, sendo louvável aos seus próprios olhos e aos olhos de seu semelhante. A palavra utilizada por Rabi Yehudá para descrever este estado de equilíbrio é tiferet, sefirá ligada a Sucot.
 Rabi Yehudá HaNassí explica que diferentes mitzvot não devem ser comparadas. Alguns pensam que dançar com a Torá, costume do dia de Simchat Torá, é menos importante do que as rezas feitas em Rosh Hashaná e Yom Kippur. Na verdade, aos olhos de D’us, dançar junto com a Torá é muito importante. É em Shemini Atseret e Simchat Torá que o julgamento de cada ser humano é encerrado para aquele respectivo ano. Apesar de que, nunca é tarde para fazer teshuvá (retornar a D’us) e mudar o julgamento celeste.
Nesta semana a combinação de sefirot predominante é netzach shebechesed. Concluimos a leitura da Torá com a descrição das bençãos dadas por Moisés às doze tribos de Israel. Sendo Moisés associado à sefirá netzach, bençãos, atos de bondade, são ligadas a chesed.
A lição que podemos depreender do verso da águia é a preocupação que ela demonstra com os outros, além de si mesma. Na realidade, ajuda demais a aplacar a depressão quando o indivíduo consegue se ocupar com outros além de cuidar de si mesmo. A águia tem esta preocupação com a comunidade e com todas a nações.


[1] Salmo 103:5, Rashi
[2] Êxodo 19:4

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