Por vezes nos sentimos isolados em nosso canto, espalhados que estamos dentre os diversos e mais remotos espaços físicos, emocionais, intelectuais e espirituais. Sentimos que estamos perdidos, desconectados do mundo exterior, afastados das pessoas, natureza, de D’us e que, esta situação não tem remédio! Tão ocupados com os afazeres de nossas vidas e distraídos pela avalanche de informação supérflua, perdemos a sintonia com os sinais existentes a nossa volta – os avisos que Ele apresenta a cada instante. Além disso, inúmeras vezes nos apegamos a valores falsos que confundem a mente e o coração, obstruindo os verdadeiros valores da alma.
Visando uma vida mais harmoniosa, este livro tem por objetivo difundir valores e técnicas judaicas. Se utilizadas diariamente, asseguramos que irá promover uma transformação pessoal positiva. Para tanto, a narrativa tem como elemento básico associar lições judaicas ao tempo físico. O Judaísmo é uma religião principalmente ligada ao tempo e não ao espaço físico. Cumpre notar que, os ensinamentos para aprimoramento espiritual visando aplacar a distância entre o indivíduo e Seu Criador estão justamente prescritos na Torá. As lições sagradas estão ao alcance de todos, perto da boca e coração, e não misteriosas ou distantes: nos céus, montanhas ou mar (Deuteronômio 30:11 e seguintes). Portanto, este livro pretende mostrar como acessar ferramentas “desconhecidas”, mas existentes na Torá. Assim, pretendemos que o livro ajude a propiciar um canal aberto de diálogo com D’us.
Está escrito nos Livros Sagrados que poderoso é aquele que contém suas paixões e ira (Pirkê Avot 4:1). Quantos litígios podem ser evitados se o ser humano contiver seus ímpetos de arrogância e fanatismo? Acreditamos que através de uma luta diária, o indivíduo pode obter uma transformação pessoal, como também promover mudanças no seu núcleo familiar, comunitário, e assim, sucessivamente. Afinal, conforme prega Isaías, a Terra não foi criada para ser um caos (Capítulo 45:18). Precisamos sim, e desesperadamente, viver em um mundo melhor, e deixá-lo mais pacífico para as futuras gerações.
Seguimos twitters, blogs e sites... Estamos sempre em busca. Porque então não darmos uma chance a esse método aqui mapeado de conexão com D’us? Se utilizado todas as semanas do ano, promoverá uma conexão direta com o Criador. Como ensina o Rabino Schneur Zalman de Liadi, é preciso “viver com o tempo”!
Resumidamente, este livro promove uma forma de viver ligada com o tempo. Serve de auto-análise e desenvolvimento espiritual, a partir das canções de cada animal no Perek Shirá, dos preceitos de cada rabino do Pirkê Avot, e sefirá (característica divina) ligada a cada dia da contagem do ômer.
A contagem do ômer sempre foi usada pelo Povo Judeu como base de aprimoramento espiritual. A contagem começa em Pessach e segue até Shavuot. No Egito, o Povo Judeu estava no 49o nível de impureza. Durante a contagem do ômer, gradativamente o povo se purificou, revertendo o quadro para atingir o 49o nível de pureza! Ao chegar no Monte Sinai, estavam tão refinados espiritual e emocionalmente, que ali acamparam em harmonia e paz, com união total: “como uma pessoa só, com um só coração”. Só assim foram merecedores e puderam ser presenteados com a Torá.
Da mesma forma, é possível obter esse aperfeiçoamento através da concentração diária em uma sefirá (uma explicação mais detalhada sobre o significado das sefirot (plural de sefirá) segue abaixo). A contagem do ômer ocorre na maior parte dentro do mês de Iyar, que está ligado a cura. O mês de Iyar é conhecido como um mês de healing, pois é formado pelas letras hebraicas que simbolizam o verso “Eu sou Deus Seu Curador” (Êxodo 15:26).
Abrindo parênteses, além de ser uma época de elevação espiritual e cura, lamentavelmente o ômer marca uma era triste na história do Povo Judeu. Em decorrência de uma praga, faleceram vinte e quatro mil alunos do Rabi Akiva, justo durante esses dias. Esta praga que ocorreu exatamente pela falta de união e respeito mútuo entre os alunos, terminou no 33o dia do ômer, Lag Ba'Ômer. Este é um dos motivos pelos quais essa data é tão celebrada. A outra principal razão pela qual se comemora Lag Ba’Ômer é atribuída ao yahrzeit – aniversário de falecimento – do grande tzadik Rabi Shimon Bar Yochai, muitos anos depois. Rabi Shimon Bar Yochai é o autor do celebrado Livro Zohar, o texto básico da Cabalá.
Impressionante notar, tal qual a festividade de Lag Ba'Ômer representa dois terços (33/50) da contagem dos dias entre os feriados judaicos de Pessach a Shavuot, também –– a semana de Lag Ba’Ômer constitui a trigésima terceira semana do ano, de acordo com o calendário judaico. O cômputo das semanas é sempre feito a partir da semana de Rosh Hashaná, no mesmo dia da semana na qual começa a contagem do ômer. Por exemplo, se Pessach cai numa terça-feira e a contagem do ômer começa na quarta-feira, então a contagem das semanas começaria na quarta-feira antes de Rosh Hashaná. Assim, é possível dar a cada dia do ano uma combinação de sefirot. Lag Ba’ômer representará não só hod shebehod, mas sim, hod shebehod shebehod (5o dia, 5a. semana e 5a serie de sete semanas). (Para saber quado começa cada semana do ano, veja a Tabela II, no final do livro).
Em consequência, cada semana deste livro está representada e conectada por uma variação das sefirot, procedimento semelhante ao adotado durante a contagem do ômer entre Pessach e Shavuot. A partir das características de cada sefirá, este livro mostra como uma pessoa pode trabalhar o seu lado interior visando auto-aprimoramento.
Entre Pessach e Shavuot, na maioria das comunidades judaicas, existe o costume de se estudar o Pirkê Avot, também como mecanismo de auto-aperfeiçoamento. Pirkê Avot, que significa Capítulos dos Patriarcas, é parte da Mishná (Torá oral) compilada por Rabi Iehudá HaNassi. Nesses capítulos, cada principal rabino da geração escreve, o que considera de mais importante para se viver eticamente de acordo com a Torá. Pirkê Avot também pode ser entendido como “Capítulos dos Pais”, pois nele estão incluídos os princípios fundamentais para o estudo e cumprimento da Torá. Neste sentido, as lições do Pirkê Avot são como "pais", e o restante da Torá são como filhos. Tal conclusão é uma decorrência dos conceitos básicos listados nesses capítulos sagrados.
Este livro mostrará como os pronunciamentos dos rabinos constantes nos primeiros quatro capítulos do Pirkê Avot estão organizados; de tal forma que, cada rabino corresponde a uma semana do ano. Igualmente, se revelará como este trabalho semanal de auto-aprimoramento também está relacionado com cada animal do Livro Perek Shirá. O Perek Shirá que significa Capítulo da Canção, é um texto pouco conhecido. Foi publicado em apenas alguns livros de prece no mundo. Outra razão pelo qual seu texto não é veiculado, reside no fato de que sua leitura não é obrigatória durante as rezas diárias. De autoria ainda desconhecida, certos comentaristas atribuem a criação do Perek Shirá ao Rei David ou ao seu filho, o Rei Salomão.
Dentre outros livros sagrados do judaísmo, o Perek Shirá é pioneiro em matéria ambiental. Este poético livro contém os elementos essenciais do universo, incluindo os céus e a terra, plantas e animais. Suas páginas sãode extremo lirismo, deslumbramento e exaltação ao Criador. Tal qual ocorre em um concerto de orquestra, ao invés de músicos, cada animal deste livro oferece sua contribuição em prol de um belo resultado sentimental. No caso do Perek Shirá, o produto final é desvelado através da melhor possível aclamação à D’us por parte dos representantes do reino animal ali elencados.
É sabido que o ser humano pode aprender sobre conduta observando o comportamento dos animais e os atos da natureza. No Livro de Jó, está contido o ensinamento de como devemos glorificar a D’us observando o procedimento dos pássaros (Capítulo 35:11). O Talmud nos ensina que mesmo sem a Torá, aprenderíamos sobre modéstia com os gatos, e a não roubar com as formigas (Eruvim 100b). Neste sentido, o Pirkê Avot leciona através do ensinamento de Iehudá ben Teimá, para sermos ousados como o leopardo, ligeiros como a águia, ágeis como o veado, e fortes como o leão.(Cap. 5:23). Impressionante: também o livro de Provérbios ensina ao preguiçoso para observar a formiga e com ela adquirir sabedoria. Este animal embora não tenha patrão, supervisor ou soberano, provê seu pão no verão e estoca alimento durante a colheita (Cap. 6:6)!
Na realidade, muitas vezes para o ser humano é mais fácil aprender determinadas condutas com os animais. Sabemos que o indivíduo é cheio de paradoxos e conflitos internos, enquanto os animais tem características fortes e claras, sem espaço para as tantas sutilezas humanas.
Prosseguindo, fascinante observar na leitura do Perek Shirá como os animais reconhecem o poder criador de D’us e são agradecidos em seus louvores! Se os animais glorificam à D’us, que dirá como a humanidade deveria louvá-Lo, já que detém o poder da comunicação verbal... Sob o prisma ecológico, nas páginas do Perek Shirá encontram-se distintos louvores do reino animal exaltando as maravilhas do Criador. E, através de cada animal e de sua respectiva canção, extraímos lições edificantes para combater inclusive a depressão.
É extraordinário perceber que dentre todos os elementos da Terra que glorificam seu Criador Único, existem os animais listados no Livro exatamente em número de 52, um para cada semana do ano!
As páginas deste livro vão mostrar o elo de conexão dos animais do Perek Shirá, dos rabinos do Pirkê Avot, e de cada combinação de sefirot, com as datas relacionadas a cada semana.
Este livro pode ser lido de uma vez do início ao fim, mas seu propósito principal é de que seja vivenciando a cada semana. Além de explicar o significado de cada mês no calendário judaico e de apontar datas e feriados importantes, a idéia é fazer com que o indivíduo se conecte com a energia espiritual da semana através de três prismas: Perek Shirá, Pirkê Avot e contagem do ômer. A intenção é propiciar ao leitor a internalização dos ensinamentos contidos nestas páginas, de modo a alcançar uma conduta mais positiva no dia-a-dia.
O livro também pode ser vivenciado durante cada dia da própria contagem do ômer, de Pessach até Shavuot (usando uma semana para cada dia), pois a contagem do ômer é em si um microcosmo de todo o ano. As 52 semanas também se refletem por inteiro nos rituais e horários do dia. (Ver Apêndice e Tabela I, no final do livro)
Para poder cumprir a jornada devidamente, o leitor precisará ter humildade e mente aberta, além de outro ingrediente básico imprescindível: fé em D’us. Está escrito no Midrash1 que o mar se abriu e os judeus só puderam prosseguir depois que Nachshon se jogou ao mar. Com o propósito de recordar o episódio, sabemos que o Povo Judeu estava completamente emboscado antes da abertura do mar. Qual a saída? Na frente, águas profundas e, atrás, o impiedoso exército egípcio. Por tudo isto, o povo estava hesitante e incrédulo, apesar dos inúmeros milagres divinos que tinham culminado com sua libertação do Egito. Sem titubear, acreditando piamente em um desenlace favorável, Nachshon se lançou ao mar. Quando as águas estavam já entrando em suas narinas, o Mar Vermelho se abriu e todos o seguiram. O Midrash explica que D’us queria que Seu povo agisse baseado em fé.
ortanto, a partir do exemplo de Nachshon aprende-se que basta ter certeza e acreditar com fervor no Eterno Único Criador do resplandecente universo. Os obstáculos foram removidos pois existiu determinação por parte de Nachshon de realizar um desígnio divino. Afinal, nada é impossível ou sequer difícil para o Eterno que tirou Seu povo da terra do Egito (Êxodo 20:2 e Salmo 78). Isto mesmo, D’us tirou Seu querido povo da escravidão: Ele não enviou anjos nem emissários para esta missão, realizada com Sua mão poderosa e braço estendido (Deuteronômio 4:34). Por isto, além de celebrar anualmente a festividade de Pessach, diariamente nas rezas matutinas, o Povo Judeu lembra de sua libertação da escravatura, ocorrida há milênios atrás.
Em conclusão, imbuído de fé pode o indivíduo trilhar firme esta proposta para uma bela jornada espiritual de duração anual. E é movido pela fé, verdade e esperança que as ferramentas na busca de entendimento da sabedoria judaica se seguem apresentadas nas próximas páginas deste livro.